Artigo "Eleições e Mídia"

Jornal do Commercio / Pág. A15 - 4 de agosto de 2010 - Autor: Nilson Mello

 

Eleições e mídia (reprodução do artigo publicado no Jornal do comércio em 04/08/2010)

Nilson Mello*

O grande espaço dado pela mídia às eleições não tem sido capaz de transformá-las em assunto estimulante. A ampla cobertura do pleito até se justifica pelo papel que os meios de comunicação devem exercer entre as instituições democráticas - que é o de manter a sociedade informada do que diz respeito ao seu destino.

Dar transparência ao que se relaciona aos candidatos e às normas eleitorais equivale a dar transparência aos atos públicos de maneira geral. Nesta linha de raciocínio, que justifica a ênfase sazonal, Thomas Cooley, constitucionalista americano do século XIX, escreveu:

"A imprensa (...) registra os acontecimentos do dia a fim de apresentá-los aos leitores (...). A sua importância capital, então, consiste em facilitar ao cidadão o ensejo de trazer perante o tribunal da opinião pública qualquer autoridade e o próprio governo, compelindo-os a se submeterem a um exame e a uma crítica sobre sua conduta. Do mesmo modo, serve para sujeitar a idêntico exame, e com fins idênticos, todos aqueles que aspiram a função pública."

Dar ampla cobertura às eleições é, portanto, dever indiscutível dos meios de comunicação, assim como, procurar manter-se informado, acompanhando o noticiário, é a contrapartida dos eleitores. Contudo, a repetição de uma retórica demagógica, mais relacionada a atos de vontade do que a programas exequíveis de Estado, e de escândalos que não escandalizam mais, transformou o que essa mesma demagogia chama de "festa da democracia" num aborrecido processo midiático.

O horário gratuito eleitoral - que não é informação jornalística. mas propaganda compulsória - tende a exacerbar a sensação de enfado, gerando mais indiferença ou desdém no público do que interesse, ainda que muitos acabem decidindo o seu voto por ele.

Qaundo essa cobertura será mais interessante? Talvez no dia em que o leitor estiver mais qualificado, obrigando os meios de comunicação a uma análise mais criteriosa e sutil do processo. E impondo ao candidato e, por conseguência, ao eleito (parlamentar e governante), o fim da demagogia em prol do conteúdo. O culpado, no fim das contas, ainda é o Estado, incapaz de garantir a plena qualificação do leitor em 20 anos de democracia.

No dia 3 de outubro, 133 milhões de brasileiros, 69% da população, deverão ir às urnas fazer suas escolhas entre 25 mil postulantes, na 12ª eleição desde 1988, marco da redemocratização. De acordo com o instituto Vox Populi, a maior fatia dos eleitores, hoje, já tem o ensino médio completo, o que não ocorria nas eleições anteriores.

Essa evolução, desde que não seja mera mudança formal, ou seja, desde que o ensino médio esteja, de fato, preparando os brasileiros, não deixa de ser um alento para que, num futuro não muito remoto, possamos assistir a um noticiário eleitoral estimulante. E, mais importante do que isso, possamos, em conjunto, aperfeiçoar as escolhas de parlamentares e governantes.     

 * Diretor da Meta Consultoria e Comunicação.



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